Em destaque, ambiente “Casa do Mirante”, projetado pela arquiteta Débora Aguiar e elogiado por colegas do segmento Ao fim de mais uma edição da maior mostra de design de interiores da América Latina — Casa Cor São Paulo —, cujo encerramento foi adiado para o próximo dia 18 de julho, vem o momento de fazer um balanço de sua representatividade no setor da arquitetura, da decoração e do paisagismo.
Em busca de saber os resultados, o Shopping News consultou profissionais que estiveram diretamente envolvidos no evento, e também aqueles que, desta vez, ficaram na plateia, para saber quais eram suas expectativas sobre a “referência” brasileira arquitetônica deste ano e com quais fatos se depararam na realidade.
A cada montagem, o evento se supera em número de participantes, de temas e principalmente de público. Nesta edição, que teve como assunto norteador a sustentabilidade, são apresentados 110 ambientes desenvolvidos por 168 profissionais e distribuídos por 56 mil metros quadrados do Jockey Club de São Paulo, nos subtemas: Casa Cor; Casa Hotel, Casa Kids e a recente Casa Talento.
Quanto ao público, a organização espera receber mais de 160 mil visitantes até o último dia do evento, o que contabiliza cerca de 15% a mais do que o apontado na edição de 2009, e é quase 23 vezes maior do que o registrado na primeira montagem, realizada em 1987. “É a edição que mais atraiu público, e uma das mais movimentadas”, afirma Ângelo Derenze, presidente da Casa Cor.
Segundo Derenze, a exposição superou todas as expectativas de negócios e de futuros negócios que, simultaneamente à saída da Seleção Brasileira do campeonato mundial, influenciou a decisão de prorrogar o período.
“Como o Brasil saiu da Copa, decidimos incluir mais cinco dias no calendário do evento. As pessoas que ainda não foram, com certeza irão. Estou confiante em que será um sucesso”, conclui.
Vitrine
Aos que ainda não participaram, o desejo é aparente, e os que já estiveram presentes no evento não medem palavras para elogiá-lo. Segundo os profissionais, dos mais jovens aos consagrados nomes da arquitetura, a Casa Cor é a principal e mais importante vitrine de exposição de seus conceitos e das novidades que o setor da construção tem a oferecer.
“A Casa Cor, em qualquer cidade, é a forma que encontramos para estudarmos e explorarmos os mais novos materiais em parceria com os fornecedores”, afirma a arquiteta Paula Ferraz, do escritório Cavalcante Ferraz Arquitetura e Design. Para ela, que já participou do evento na cidade de Sorocaba, interior de São Paulo, “a mostra é o que se tem de mais rico no setor, além de ser um excelente campo de pesquisa no mercado”.
O arquiteto Francisco Cálio, criador do ambiente “Loft do Artista” e que participa pela 10ª vez da exposição, diz que é a melhor maneira de os profissionais mostrarem seus trabalhos para o País e o mundo, pois, com a grande visibilidade na mídia nacional e internacional, o interesse de visita do público estrangeiro cresce cada vez mais. “Recebemos ingleses, franceses e americanos, entre outros, o que transforma a mostra em uma vitrine para o mundo, especialmente aos que ainda estão em formação de carreira”, explica.
Na opinião de Sérgio de Oliveira, arquiteto e professor universitário que participou do evento por sete vezes, mas atualmente está afastado há cerca de cinco anos, é importante participar principalmente “pela imagem que a exposição assinala nos profissionais”, mas alerta que a Casa Cor ficou muito comercial. “Quando entrei no evento, na primeira vez, precisei apresentar muita informação e um currículo bem vasto para ser aprovado. Hoje é tudo bem mais fácil”, afirma.
Tema
A questão da sustentabilidade ambiental ganhou destaque em diversos setores da indústria, em especial o da construção. A Casa Cor seguiu o conceito, e para esta edição sugeriu que os profissionais desenvolvessem projetos com apelo sustentável.
Sob o tema “Sua casa, sua vida, mais sustentável e feliz”, os ambientes foram criados com madeira de demolição e de reflorestamento, materiais que imitam pedras como o mármore, os jardins ganharam destaque e por vezes invadiram os interiores.
Na opinião de Paula Ferraz, que visitou a mostra, a questão ainda é muito nova no País, e será sentida apenas daqui a alguns anos. Porém, para disseminação da ideia, o tema foi muito relevante. “Acredito que este assunto deve e será muito explorado ainda. Mas, para que o público conhecesse um pouco mais sobre esta importância, a mostra atendeu as expectativas, principalmente, porque é difícil trabalhar com materiais desta linha”, afirma.
Cálio diz que o esforço de todos os participantes foi grande para atender o objetivo. Na sua opinião, os projetos que mais se adequaram foram os de paisagismo. “No Brasil, ainda estamos engatinhando neste tema. Não é apenas colocar um jardim dentro da casa para ser sustentável”, explica o designer. “O material reciclado deveria ser superacessível, mas não é. No Brasil temos poucas pessoas que apostam na questão do 'ecologicamente correto', tudo demora muito”, critica.
Sérgio, que visitou a edição de 2010 da mostra quatro vezes, tem a mesma opinião de Cálio e afirma que “primeiro é preciso entender o que é sustentabilidade e ter, no mercado, indústrias que vão ao encontro dessa filosofia”. Para ele “não adianta apenas vender a imagem, é importante ter empresas mais evoluídas neste sentido também”.
Destaques
Dentre os espaços em exibição, dez projetos foram premiados em 11 categorias, entre os quais o “Espaço para a Nova Era”, dos arquitetos Ugo di Pace, Maria Andraus di Pace e Raul di Pace”, o Melhor Projeto em Casa Cor; o “Loft Sustentável”, da arquiteta Fernanda Marques, o Projeto Mais Sustentável, e o “Porão”, de João Armentano, nas categorias Mais Original e Mais Ousado.
Na opinião de Paula, a contemplação foi justa. “No ano passado senti falta da premiação a Fernanda Marques, e nesta edição ela está entre os ganhadores. Fico feliz porque admiro o trabalho dela”, afirma a profissional, que também destaca o trabalhado da arquiteta Débora Aguiar. “É incrível como ela conseguiu mudar toda uma estrutura que já existia na área, além de deixar muito claro o requinte de sua personalidade.”
Sérgio também destaca o ambiente de Débora. Segundo ele, é um espaço usável, com começo, meio e fim, além de possuir cores agradáveis para uma casa.
Para Cálio, entre os espaços que se destacaram, está o “Lounge Bar”, de José Roberto Moreira do Valle, e o “Nova Era”, de Ugo di Pace, que valorizaram os ambientes com o uso de vidraças. “Existe uma integração muito grande com a natureza. Antes, para construir derrubavam-se árvores; eles apresentam um outro conceito de construção”, afirma.
Democratização
Com a crescente possibilidade de obtenção do imóvel próprio, o hábito de prezar a arquitetura e a decoração de primeira linha também tem ganhado destaque, e deixado de ser um privilégio da elite. Isso é o que afirma Francisco Cálio. “O processo ainda é muito lento, o boom das construtoras começa a influenciar também o design de interiores. Isso é classificado como democratização”, avalia.
Na opinião de Ângelo Derenze, a Casa Cor é uma forma de materializar os projetos arquitetônicos para dentro das casas dos brasileiros. “A decoração está sendo democratizada. Hoje, com a melhoria da economia, todos estão tendo a possibilidade de ter um momento de consumo”, explica.
Paula diz que atualmente é possível o público acompanhar diversas mostras de decoração que também têm sua importância e contribuem para quebrar o tabu de que decorar é apenas para a elite, mas afirma que a Casa Cor é o conceito mais próximo e esperado do público. “As pessoas esperam por ela, que se tornou um programa familiar”, diz.
“Não vejo a Casa Cor como uma mostra democrática”, afirma Sérgio de Oliveira. De acordo com ele, existem outras formas de movimento para difundir o hábito da decoração, e uma série de fatores a serem discutidos. “A Casa Cor deveria ter, em primeiro lugar, um critério de exagero.” Para Sérgio, nas primeiras edições a exposição era mais romântica, seletiva e disputada. Mas, com a realização em outros espaços e a multiplicação dos temas, perdeu a estrutura e o conceito originais. “Sem dúvida ela provoca uma inquietação na indústria de modo geral, o que é sempre positivo. Porém, precisa reavaliar os exageros”, conclui.
Foto: Divulgação
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